Análises BR
Rashid mostra como é ser "Tão Real" em seu novo álbum
O rapper Rashid desde seu começo de carreira na caminhada do rap nacional sempre foi um letrista único e original, visando mostrar todas suas habilidades no Mic, afiando sua lírica e passando conhecimento através das diversas referências, vindo das batalhas de rap que o ajudaram a formar o Mc completo que ele é hoje. Rashid é uma referência em sua geração e todo trabalho lançado por ele é diferenciado tanto musicalmente como nas suas estratégias de marketing. E no novo álbum "Tão Real" o rapper apresenta 18 músicas inéditas, sendo seu diferencial ter dividido ele em três temporadas (como uma série da Netflix), alem de conter um site exclusivo para o álbum que apresenta diversos conteúdos inéditos que mostram o processo de gravação e todo desenvolvimento que ronda a nova obra. O álbum conta com diversos produtores, dando um tom de diversidade de batidas old school com beats mais atuais, além de marcar produções do próprio rapper, que ele vinha trabalhando em conjunto para enriquecer mais ainda sua nova obra especial e autoral. Cada obra nova de Rashid a ser lançada mostra como o rapper está sempre crescendo a medida que passa o tempo, com idéias e sonoridades novas que enriquecem sua carreira e que estabelece o Mc como um dos melhores do Brasil.
TEMPORADA 1
O álbum começa com a faixa pé na porta intitulada "Conceito de Rua" onde o rapper quer mostrar que não se força um conceito seja num álbum, música ou na vida, o conceito vem naturalmente, simplesmente sendo real, e conceito de rua não se aprende, mas sim se vive e sente. Explodindo a mente dos ouvintes com suas punchlines pesadas, Rashid cospe verdades no mic sobre o atual Rap Game Brasileiro e sobre os fãs do movimento, destacando a frase "Vota que nem KKK, mas quer ser K-Dot". Esta frase representa bem o que o rapper quer expor e que da continuidade ao refrão que coloca em foco quem você é realmente no seu sub-conhecimento, pois muitos dizem coisas quando estão em grupos, mas quando estão sozinhos ou em outras ocasiões acabam se mostrando quem são de verdade, por traz da carapuça "Qual que é seu conceito? Quem que 'cê é quando ninguém tá vendo? Num adianta esconder, nós acaba sabendo" simbolizando que uma hora ou outra a rua (os verdadeiros) acabam sabendo sua verdadeira índole e caráter. Já na segunda faixa "Não Pode (Part. Luccas Carlos)" o Mc fala sobre superação e persistência, em sua caminhada no rap a 10 anos, transparecendo que nada foi ou é fácil em busca do crescimento na carreira, como toda essa desconfiança e inveja de vários o motivou a evoluir ao longo do tempo.
Em "Todo Dia (Part. Dada Yute)" o rapper toca em várias feridas abertas em nossa sociedade, como racismo, censura, desestruturação social, desigualdade entre outros tópicos pertinentes sempre com punchlines pesadas que nos fazem refletir a atual situação do país, desses temas que infelizmente são antigos mais ainda estão muito presentes, enraizados nas entranhas do Brasil. Devido todos esses fatores o rapper está de luto e lutando para combater as injustiças, demonstrando que o rap é, e sempre será, a voz dos oprimidos e esquecidos pelo sistema. A quarta faixa intitulada "A Busca" tem como tema principal mostrar todo amor que o rapper tem pela música, fazendo através das palavras a gente imaginar sua origem e influências no rap, e sempre demonstrando que ele sempre está na busca, da melhor rima, batida ou flow. Pois ele não se contenta com, ele vive pra música sendo grato a todos que o ajudaram na caminhada e seus fãs que o acompanham nessa jornada.
Em "Tão Real" o rapper abre seu coração colocando em rimas seus sentimentos, passando como diversas coisas que ele rima é tão real e verdadeiro, rimas que pra muitos são só palavras, pro rapper é realidade sentida e sofrida como o verso "Que o zica memo é o Michel e até espanta, Porque ele vive essas coisas tudo aí que o Rashid só canta". O rapper também fala sobre a postura equivocada de alguns mc's no mic ou fora dele "E quantos mano quiseram ser Pablo? Normal, E o mais perto que chegaram disso foi ter o mesmo final". Rashid ainda termina a faixa expondo inseguranças, colocando toda sinceridade na caneta e mostrando o lado humano de um rapper. Na última faixa da primeira temporada intitulada "Superpoder (Part. Lellê)" o rapper passa a visão que esse sucesso em sua carreira não é por em vão, vem com muita luta e persistência, e que seu poder é a "Dedicação" pois toda sua caminhada foi e é de rotinas pesadas e de ralação, onde nada ele ganha, mais sim conquista com sua fé e entrega de si.
TEMPORADA 2
A segunda temporada começa pesada com a música "SSNS" que tem como tema central o lado econômico, o dinheiro entorno de tudo que faz o mundo girar, mas não ache que o rapper glorifica a grana na verdade nesta faixa o rapper abre o leque de cartas e da vários conselhos sobre o assunto, falando desta busca incansável da humanidade pela grana, tornando o ciclo vicioso de ganhar e gastar, refletindo que o maior problema não é o dinheiro em si, mas sim o valor estimativo que damos pra ele, onde ele canta no refrão "Cê que manda ou ele manda? A direção quem tomou?". Além claro de expor a necessária dependência do cash para a sobrevivência, que abrange a desigualdade tão presente em nosso realidade, onde situa "Parece um jogo pra ver se cê é honesto, quando 5% dos mais rico tem a mesma grana que todo o resto" o rapper da uma aula em forma de poesia. Já na faixa "Bem Loko (Part. Rincon Sapiência)" Rashid e Rincon transcendem sobre a bebida e alcoolismo, como o vicio é perigoso e dá brecha para diversas armadilhas e situações complicadas, eles vão em diversos fatores que abrangem o tema fazendo o conhecido jogo de palavras que os dois mc's fazem muito bem, discutindo sem moralismo ou pedagogia os aspectos que giram em torna do álcool o intuito dos rapper é só passar idéias e abrir discussões positivas.
Em "Apovôru" o rapper tira onda soltando suas punchlines de costume, brincando com as palavras nesse som que tem uma vibe positiva de curtição, passando a mensagem de que devemos curtir e viver momentos bons, com uma atmosfera dançante para curtir na pista pois Rashid é brabo nas rimas em qualquer estilo de beat que o colocarem.
O single "Sobrou Silêncio (Part. Duda Beat)" conta uma história de amor urbano, um romance moderno dos tempos atuais que mostra como essa vida cotidiana pode proporcionar desencontros pela falta de tempo, que essa modernidade principalmente tecnológica ao mesmo tempo que conecta todos nas redes, nos separa no âmbito pessoal de estar presente um com o outro, nessa rotina pesada das grandes metrópoles, o amor liquido se manifesta na atualidade. Em "Carrossel" o Mc coloca a ambiguidade de uma relação amorosa e situações de vida com um parque de diversão (letra), fala sobre a inersia de muitos e como o tempo passa e se vai, escorrendo entre os dedos e quando você viu já passou e você acabou não fazendo nada.
Na faixa "Um Mundo de Cada Vez (Part. Drik Barbosa e Wesley Camillo)" Rashid dividi reflexões da vida e sociedade com a rapper Drik Barbosa. A música começa com uma locação reflexiva e poética de Renan (Inquérito) sobre liberdade e felicidade do ser, Rashid faz questionamentos filosóficos sobre o mundo, tentando ver através de outras perspectivas, enxergar através do outro, visando expor como uma grande parte da sociedade é individualistas e egoísta.
Temporada 3
No começo da última temporada do disco Rashid passa toda sua "V-I-S-Ã-O" na caminhada do rap, com muito trabalho e dedicação o rapper conta sua história desde do começo até o presente vitorioso, relembrando suas obras e participações, dando salves a pessoas que fizeram parte de seu legado, como no verso "São 9 anos desde que lancei meu primeiro, 7 trampo solo mais um outro EP com parceiro. Alguns clássico no catálogo, uns hit e a gana, pra melhorar porque ainda num cheguei aos pés de Negro Drama", sempre colocando que ainda tem muito pra evoluir e dando um papo reto com várias referências. Já na canção "Blindado" o rapper expõe sobre os falsos e invejosos, seja vida ou no rap game, no som ele coloca o cuidado que deve ter com gente fingida e traidora. mas como o próprio título diz ele está blindado, não dando bola pra quem o quer ver derrotado ou acha que ele vai se estressar com inveja alheia, pois como diz em um trecho "Irmãos falsos querem me fazer de Abel, aliança é só mesmo um tipo de anel. Doce licor na presa de uma cascavel, Não vejo, não ouço e não falo".
No single love song "Pipa Voada (Part. Emicida e Lukinhas)" Rashid e Emicida usam os seus dons de rimas melódicas, e suas habilidades cheias de trocadilhos e referências ao tema título, demonstrando em várias rimas o sentimento diferente que aquela pessoa especial traz, deixando quem ama nas nuvens, flutuando em emoções. O refrão viciante cantado por Lukinhas mostra esse sentimento em destaque "É que eu tenho alma de pipa voada, ela me deu linha e depois voei. Solto pelo céu, quero saber de nada, ela me deu linha e depois voei". Em "Meu Amigo Tempo (Part. Tuyo)" o mc faz diversas reflexões sobre o maior inimigo do homem "O tempo". Rashid conta um pouco sobre suas experiências no rap e na vida pessoal ao longo dos anos, e disseca como o tempo é relativo para cada pessoa, pois uns se prendem no passado, enquanto outros se adaptam e crescem com o tempo corrido. Mas sua reflexão final é que o tempo corre e não deixa espaço pra quem não se planeja e não se atenta com as oportunidades que chegam e se vão com um piscar dos olhos.
A faixa "Casca" demonstra em rimas como diversas pessoas são vazias na atual realidade, a qual se baseiam em aceitações de outros, não demonstrando nenhuma personalidade ou opinião própria. No refrão cantado pelo rapper "Olha pra mim, desde quando me tornei vazio assim?. Olha pra mim, só pra suprir o que os outros esperam de mim. Esperam de mim, até quando a resposta é não, tenho dito sim." ele cita como essas pessoas tem uma casca (imagem) que agrada os outros e não a si mesmo, aceitando coisas mesmo não querendo. Na última e especial faixa "Eu (Part. Srta. Paola)" o rapper abre seu coração para o público e fãs, transpondo suas frustrações e inseguranças como Mc, buscando sua própria aceitação como artista. Ao longo do caminho Rashid já se viu num caminho cercado pelas inseguranças e medos, pois o rapper é ser humano como todos nós, expondo sentimentos de como ele passou ao longo dos anos a ter altas reflexões sobre seu futuro e carreira, crescendo e acreditando em si mesmo, superando as dificuldades pessoais e mentais. E para terminar com chave de ouro está obra uma breve parte final da cantada pelo rapper resumindo seu objetivo com a faixa "Corri tanto de mim, mas tanto, que só parei quando trombei de frente com uma casca vazia. E notei que ali dentro cabia exatamente cada vontade minha, cada memória. Vi que a casca era forte o suficiente pra suportar as tempestades que de vez em quando eu costumo atravessar. Até espaço para as minhas frustrações havia lá. Resolvi entrar, eu sou a única pessoa que eu poderia ser".
Gustavo Quiodine, 08/03/2020.